Madeira é sustentável?

Já comentei sobre a complexidade da palavra “sustentabilidade” no texto Em cima do trator a cabeça voa, e talvez acabe me repetindo um pouco. Mas queria contar aqui o malabarismo mental que fazia, junto com o Thomas, arquiteto que está orientando o projeto, sobre usar (ou não) madeira na obra e qual escolher.

Falar de sustentabilidade em de obra é sempre difícil, uma vez que fazer nada muitas vezes é a atitude mais sustentável. Já começamos em dívida.

Inclusive, quando pesquisava tipos de madeira e durabilidade, encontrei anúncios de deck de plástico que seriam sustentáveis justamente por evitar a derrubada de árvores. Só que aí você ignora a origem do material (exploração de petróleo) e destino (plástico não é degradável).

A madeira na construção tem uma pegada interessante de captura de carbono. Uma árvore requer carbono para crescer, capturando-o em sua estrutura. Se você a usa numa aplicação durável e planta outras no lugar, consegue uma prática sustentável.

Mas é preciso pensar também em contexto. Se você corta uma árvore centenária de uma floresta, e para isso derruba uma área de 200 metros ao redor, a conta não fecha. Ou, se precisa de tanta madeira a ponto de desestabilizar ou destruir o bioma da área, também não funciona.

Na verdade, o mais sustentável seria o uso de madeira de árvores caídas naturalmente, o que é complicado — a legislação não faz essa distinção por motivos óbvios: a provocação em massa de “quedas acidentais causadas pelo homem”.

Enfim, divago. Se decidi construir o barracão, “alguma coisa” precisa sustentar o telhado.

Chegamos a pensar em bambu, e talvez seja a estrutura mais sustentável, mas não tenho experiência com bambu, e não senti firmeza que conseguiria aprender o suficiente para garantir a sua durabilidade no barracão. Também não tenho bambu na propriedade. Tenho no vizinho, mas são touceiras velhas não manejadas, usar esse tipo de bambu em construção civil tem desafios.

Ainda quero usar bambu no Espaço Kabouter, futuramente.

Minha ideia com o Espaço Kabouter sempre foi usar madeira local. Mas tenho um probleminha de prazo aí: Os ipês, jequitibás e louros que plantei só estarão prontos para extração daqui vinte ou trinta anos. Colhe lá e planta aqui. É o que tem pra hoje.

A solução que encontramos foi usar pinus, por um motivo simples: é a única madeira de construção com bom custo-benefício, que você pode garantir que não foi extraída da Amazônia.

A madeira que comprei veio de Santa Catarina. Por sorte encontrei um fornecedor que enviava cargas mensais para uma cidade próxima, e consegui incluir meu pedido no frete. ( O que gerou uma boa economia financeira, e também no carbono gasto no transporte até aqui.)

Agora, usar tratado ou não?

Estava resistente a usar o pinus autoclavado, porque os produtos utilizados no tratamento são altamente tóxicos, e o próprio processo de tratamento gera resíduos químicos. No entanto, o espaço é cercado de vegetação, formigas, cupins e outros insetos. Eu não conseguiria garantir que as vigas do barracão não seriam atacadas.

Pensei em fazer um tratamento mais simples, local, na hora da montagem das peças, mas cheguei à conclusão que fazer isso “manualmente” provavelmente teria um resultado aquém, com talvez a mesma, ou até maior, quantidade de resíduos. Por isso acabamos por optar pelo pinus autoclavado na estrutura do barracão.

Desde o começo do projeto, a meta sempre foi trabalhar com bioconstrução, autoconstrução e práticas sustentáveis. Mas não é tão fácil. É preciso pensar em custos, durabilidade, no conhecimento que tenho acesso e até no material que é viável trazer para cá. Existe o ideal e existe o possível.

Quero ver se trago aqui um pouco do processo de prototipagem dos arcos, que já começou. A caixinha de vapor está feita, e os primeiros testes curvando a madeira foram promissores!

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